por Harold Brochmann, Canada tradução e adaptação não autorizada pelo autor |
As mentiras que dizemos acerca de nossos deveres e propósitos,
as palavras sem sentido da Ciência e Filosofia,
são paredes que caem ante um pequenino "Por quê?".
John Steinbeck
The Log from the Sea of Cortez
Esta é uma muito citada razão para ensinarmos Matemática. Ninguém se atreveria
a dizer o contrário.
Implícito na cultura ocidental está a noção de que a Natureza é regida por
leis matemáticas. A crença no Determinismo nos faz crer que se conhecermos as
leis ( matemáticas ) da Natureza, bastará alimentá-las com dados/medidas para
podermos ficar conhecendo o futuro. Causa e previsível efeito. Mais do que isso,
as formas naturais imitariam a perfeição das figuras euclidianas, como círculos
e triângulos. Nas palavras de Galileo Galilei: Deus escreveu o Universo
usando a linguagem matemática. Consequentemente, o entendimento da Matemática
é pre-requisito para o entendimento, apreciação e controle da Natureza.
Duas opiniões suportando o que acabamos de colocar:
Um currículo de matemática baseado em paradigma descritivo , em vez de um
paradigma prescritivo, ainda está por ser desenvolvido.
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O preparo do cidadão envolve o desenvolvimento de habilidades profissionais. Muitas dessas dependem de matemática. Essa, sem dúvida, é uma justificativa mais do que suficiente para ensinarmos matemática. Eu acrescentaria que os estudantes devem, também, adquirir habilidades relacionadas com o gerenciamento responsável de suas finanças pessoais. Em adição, para que possa participar das decisões políticas cada vez mais comuns na sociedade moderna, é necessário um certo nível de entendimento de conceitos estatísticos e econômicos. Essa matemática apropriada para o preparo da cidadania não é ensinada no nosso sistema escolar. Sob a denominação de Consumer Mathematics, tópicos modificados ( leia-se "diluídos" ) desse tipo começam a ser oferecidos, nos USA e Canada, para alunos que não pretendem ingressar na universidade. Entre o que estuda-se nos secundário há pre-requisitos para tópicos essenciais encontrados na educação universitária ou vocacional. Estudantes que esperam fazer estudos pós-secundários, em escolas técnicas ou universidades, sabem que boas notas nas disciplinas de matemática do secundário são fundamentais para o ingresso nessas instituições. A tendência é de nem ser mais suficiente ter "boas notas", é cada vez mais importante ter as "melhores notas". Mas é também verdade que as pessoas responsáveis pelos exames vestibulares sabem que a Matemática é um eficiente filtro. E eles até defendem-se alegando que quem teve bom desempenho em Matemática demonstrou capacidade de aprender e é, consequentemente, capaz de sair-se bem em outros assuntos. Isso provavelmente é verdadeiro; mas será que não é demasiado desperdício e será que não existe outro critério com maior correlação com o sucesso ? Uma das coisas que torna a Matemática especialmente atrativa com filtro é sua alta capacidade de discriminar entre respostas certas e erradas. Isso lhe dá uma aura de instrumento altamente preciso. De qualquer modo, como os vestibulares de vários tipos envolvem prova de conhecimento de matemática do secundário, todo o currículo do secundário acabou gravitando em torno disso. Resultado: formação cultural, desenvolvimento da capacidade de pensar e resolver problemas, utilidade na vida do cotidiano, entendimento dos fenômenos naturais, e a cidadania consciente e informada NADA TEM A VER com tal currículo. Apesar do pequeno percentual de estudantes que completam estudos pós-secundários, muitas vezes em campos envolvendo nenhuma matemática, o currículo do primário e secundário é determinado em função do que as instituições pós-secundárias exigem em seus exames de admissão. E isso é tudo. |
versão: 26-fev-2 000
local desta página: http://athena.mat.ufrgs.br/~portosil/polemica.html
© Harold Brochman
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