MATH WARS: a matemática dos educadores
por John Leo e Martin Gardner
tradução e adaptação não autorizada pelos autores



A Nova Nova Matemática

( o que se segue é uma tradução não autorizada de trechos do artigo The New New Mathematics, de Martin Gardner, publicado no New York Review of Books, em 24 setembro de 1 998 )

Amostras do que eles escrevem

.......O novo modismo da Nova Nova Matemática é fortemente baseado no multiculturalismo, ambientalismo e feminismo. Essas tendências recebem enorme atenção em cada um dos 28 artigos do yearbook para 1 997 do NCTM (&National Council of Teachers of Mathematics ), entitulado: Multicultural and Gender Equity in the Mathematical Classroom. The Gift of Diversity.

É até difícil refutar o material do livro, uma vez que a maioria dos professores que escreveram seus capítulos usam um linguajar estonteante. As palavras mais usadas no livro são "multiculturalismo" e "equidade". A palavra "equidade", que simplesmente indica que deva-se tratar todos os grupos étnicos igualmente e que não deva-se favorecer um sexo sobre o outro, deve aparecer no mínimo mil vezes no livro. A frase típica seguinte abre o capítulo onze: "A pedagogia feminista pode ser importante parte da construção de um ambiente escolar multicultural e com equidade de gênero".....

Amostras do que eles fazem na sala de aula

....No Elementary School Journal, Vol. 93 ( 1 992 ), E. T. Putnam e outros três autores entusiastas da Nova Nova Matemática publicaram o artigo Teaching Mathematics for Understanding No mesmo, eles resumem observações sobre o trabalho de aula de quatro professores de 5a série. Dois dos professores, Sandra e Valérie, são entusiastas das novas técnicas matemáticas. Os outros dois usam métodos tradicionais.

Sandra é muito hábil em fazer com que os alunos trabalhem em grupos. Contudo, num exercício ela mostra aos alunos que para se obter o perímetro de um campo retangular se multiplica o comprimento pela largura! Em outro projeto ela calcula o volume de uma caixa de areia multiplicando seu comprimento e largura expressos em jardas, e então multiplicando esse produto pela altura da caixa expressa em pés! Em uma entrevista, Sandra conta que enquanto trabalhando no problema da caixa de areia, os alunos lhe perguntaram o que era um pé cúbico. Disse ela: "V. sabe, o fato é que eu não sabia responder essa pergunta. Mas eu pensei e pensei, e então me lembrei de como se mede um cubo". Nem Sandra e nem seus alunos se deram conta de seus dois erros imensos. Apesar desses erros, os autores do artigo declaram Sandra ser "uma professora exemplar". Sandra é louvada por conseguir que seus alunos sintam prazer em seu esforço cooperativo para resolver problemas "no contexto de situações problema do mundo real". Achar uma resposta correta era menos importante do que sentir satisfação em trabalhar no problema.

Valérie féz um erro igualmente abismal. A tarefa era achar o número médio de vezes que seus trinta estudantes tinham tomado sorvete nos últimos oito dias. Isso foi "resolvido" dividindo 30 por 8, obtendo-se 3,75 que foi arredondado para 4!
Como ocorreu com Sandra, nem Valérie e nem seus alunos deram-se conta que sua resposta estava completamente errada. Apesar disso, os autores do artigo lhe perdoam o erro sob a justificativa de que Valérie foi muito hábil em fazer com que os alunos usassem suas experiências. Mais ainda, ela teria conseguido impressionar os alunos com "a utilidade e a relevância das médias". O fato que a professora e os alunos tenham falhado completamente no cálculo da tal mêdia é apenas um detalhe...

Quanto a Jim e Karen, os dois professores que usaram métodos de ensino clássicos, os autores do artigo não se impressionam pelo fato de que os respectivos alunos tenham saído-se bem em testes. Ambos são castigados por não apreciarem os métodos da Nova Nova Matemática.

O que é deplorável é que muito pouco do artigo tenha tratado da incompetência das duas professoras que revelaram-se enormemente ignorantes, e que, ao contrário, tenham elogiado Sandra e Valérie por terem achado modos de fazer com que seus alunos trabalhassem alegremente nos problemas. Não é por nada que alguns chamam a Nova Nova Matemática de "fuzzy". Qualquer tentativa de trabalho é considerada significante, mesmo quando errada................



O assim chamado Pythagoras

( o que se segue é uma tradução não autorizada de trechos do artigo The so called Pythagoras, de John Leo, publicado no US News & World Report, em 26 de maio de 1 997 )

....... A Nova Nova Matemática, como as vezes é chamada, tem grandes objetivos: deixar de lado o ensino voltado para os exercícios e ajudar os alunos a entender e gostar dos conceitos matemáticos. Contudo, na prática, tem sido um amontoado de bobagens. A exercicitação é trocada pela teoria e pela idéia de que os alunos não devem ser receptores passivos de regras mas sim descobridores, gentilmente guiados pelos professores, os quais são co-aprendizes e não autoridades com lições a ensinar. Respostas corretas também não são importantes. Alguns opositores chamam isso de Matemática Integral, pois os alunos frequentemente acabam adivinhando as respostas, de um modo similar ao que ocorre no modismo do Inglês Integral, onde os alunos tentam adivinhar palavras que não conseguem pronunciar. .........

Em verdade, esses vagos objetivos incluem atividades de aula que pouco tem a ver com matemática......, ( por exemplo ), no livro Secondary Math: an integrated approach, focus on Algebra temos a poesia de Maya Angelou, fotos do Presidente Clinton e de gravuras africanas em madeira, sermões sobre nossos pecados ambientais, e mais fotos de alunos chamados Tatuk e Estéban dando conselhos sobre a vida. Também contém elogios à mulher de Pythagoras e faz profundas perguntas como "qual papel devem desempenhar os zoológicos em nossa sociedade?". Contudo, equações só aparecem na página 165, e a primeira vez que uma equação de primeiro grau é resolvida ocorre na página 218 e a resolução é feita por tentativas........

Pior ainda, a Nova Nova Matemática adotou o clássico cozido de obsessões das faculdades de educação sobre sentimentos, auto-estima e toda uma agenda de itens politicamente corretos.

..........A Nova Nova Matemática tornou-se um veículo para o agressivo multiculturalismo que se alastra pelas escolas. O material produzido pelo NCTM ( National Council of teachers of Mathematics ), que está suportando a Matemática Integral, está cheio de sugestões para implementar o multiculturalismo nas aulas de matemática. A Nova Nova Matemática, consequentemente, também vagamente endossa o alegado novo campo da Etnomatemática. A maioria de nós pode pensar que a Matemática é uma disciplina abstrata e universal, que pouco tem a ver com etnicidade. Mas os etnomatemáticos, que estão muito ocupados fazendo congressos e escrevendo livros, afirmam que as pessoas tem uma matemática natural a qual está vinculada à sua cultura. A matemática do Mundo Ocidental, por exemplo, não é universal mas apenas uma expressão da cultura dos brancos sobre os não-brancos. Muito disso vem acompanhado por ataques ao eurocentrismo. Num livro de ensaios sobre Etnomatemática inicia-se lembrando que a Europa não existe, pois é apenas uma península do continente Eurasiano... Boa parte do livro é gasta insistindo que povos sem escrita tinham vários tipos de manifestações matemáticas, de padrões de tecelagem a um osso africano com riscos que deviam ter sido usados para contagem.

Tudo não passa de tolices, mas é onde o multiculturalismo anda agora. A menos que V. vá estudar em uma escola de engenharia que use ábacos Yoruba, ou a menos que V. costume verificar seu talão de cheques ao estilo dos indios navajos, provavelmente o melhor a fazer seja ignorar esse tipo de coisas. .........



versão: 20-ag-1 999
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