Construção 
        da Matemática e Formalização do Número Natural
      1. O número 
         
        Os números são um dos dois objetos principais de que se 
        ocupa a Matemática. O outro é o espaço, junto com 
        as figuras geométricas nele contidas. 
         
        Números são entes abstratos, desenvolvidos pelo homem como 
        modelos, que permitem contar e medir.  
         
        Os compêndios tradicionais dizem o seguinte: 
         
        "Número é o resultado da comparação entre 
        uma grandeza e uma unidade. Se a grandeza é discreta, essa comparação 
        chama-se contagem e o resultado é um número inteiro; 
        se a grandeza é contínua, a comparação chama-se 
        uma medição e o resultado é um número real". 
         
        Nos padrões atuais de rigor matemático, o trecho acima não 
        pode e ser considerado como uma definição matemática, 
        pois faz uso de idéias (como grandeza, unidade, discreta, contínua) 
        e processos (como comparação) de significado não 
        estabelecido.  
         
        2. O que é uma definição 
        matemática? 
        
      
        
           
             
                É uma convenção que consiste em usar um 
                  nome, ou uma sentença breve, para designar um objeto 
                  ou uma propriedade, cuja descrição normalmente 
                  exigiria o emprego de uma sentença mais longa. 
                | 
           
         
         
       
        Por exemplo: 
         
        • Ângulo é a figura formada por duas semi-retas que 
        têm a mesma origem. 
         
        • Primos entre si são dois ou mais números naturais, 
        diferentes da unidade, cujo único divisor comum é a unidade. 
         
        Na apresentação de uma teoria matemática, toda definição 
        faz uso de termos específicos, os quais foram definidos usando 
        outros termos, e assim sucessivamente. Este processo iterativo termina 
        numa palavra, ou num conjunto de palavras (de preferência dotadas 
        de conotações intuitivas simples) que não são 
        definidas, isto é, que são tomadas como representativas 
        de conceitos primitivos. Exemplos: ponto, reta, conjunto. 
         
        3. Termos 
        primitivos e axiomas na Matemática 
         
        Para podermos empregar conceitos primitivos adequadamente, é necessário 
        dispor de um conjunto de princípios ou regras que disciplinem sua 
        utilização e estabeleçam suas propriedades. Tais 
        princípios são chamados axiomas ou postulados. Os conceitos 
        primitivos são objetos que não se definem e os axiomas são 
        proposições que não se demonstram. 
       
         
      
        
           
             
                O método axiomático de construção 
                  de uma teoria matemática consiste em: 
                  * formular uma lista dos conceitos primitivos;  
                  *enunciar os axiomas necessários;  
                  *definir as demais noções;  
                  *demonstrar afirmações e resultados seguintes. 
                 
                | 
           
         
          
         
         
       
      4. Teoremas, lemas e corolários 
       
         
      
        
           
              
                As proposições a serem demonstradas¹ 
                  chamam-se teoremas e suas conseqüências imediatas 
                  são denominadas corolários. Uma proposição 
                  auxiliar, usada na demonstração de um teorema, 
                  é chamada um lema. 
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      5. O Conjunto dos Números Naturais 
         
        Lentamente, à medida que se civilizava, a humanidade apoderou-se 
        desse modelo abstrato de contagem (um, dois, três, quatro,...) que 
        são os números naturais. 
         
        Na história da matemática, a noção 
        intuitiva de número, nascida da contagem foi evoluindo até 
        tornar-se uma construção teórica, desenvolvida com 
        o método axiomático.  
        Podemos, hoje, descrever concisa e precisamente o conjunto N dos números 
        naturais, partindo dos conceitos primitivos de “número” 
        e de “sucessor” e valendo-nos dos axiomas formulados pelo 
        matemático italiano Giuseppe Peano² 
        , no limiar do século 20.  
         
        A teoria dos números naturais 
        N = {1, 2, 3, ...} é um conjunto, cujos elementos são chamados 
        números na¬turais. A essência da caracterização 
        de N reside na palavra "sucessor".  
      Intuitivamente, quando n e n' pertencem a N, dizer que 
        n' é o sucessor de n significa que n' vem logo depois de n, não 
        havendo outros números naturais entre eles.  
         
        Neste texto, adotamos N = {1, 2, 3 ...}.  
        Você poderá encontrar em outros textos uma versão 
        para N = {0, 1, 2, 3, ...} 
      Axiomas de Peano 
        
      
        
           
              
                a) Todo número natural tem um único sucessor; 
                  b) Números naturais diferentes têm sucessores diferentes; 
                  c) Existe um único número natural, chamado um 
                  e representado pelo símbolo 1, que não é 
                  sucessor de nenhum outro; 
                  d) Seja X um conjunto de números naturais. Se 1 pertence 
                  a X e se, além disso, o sucessor de todo elemento de 
                  X ainda pertence a X, então X = N. 
                | 
           
         
         
       
        Do último postulado, vem o Princípio 
        da Indução, um método de demonstrações 
        de proposições a respeito dos números naturais: 
         
        A proposição P(n) é válida para todos os números 
        naturais n, se: 
        1) P(1) é válida 
        2) Se P(n) é válida então P(n+1) é válida. 
       
         
      
        
           
              
                Esta última condição quer dizer que: supondo 
                  a proposição P(n) válida para um natural 
                  n, se for possível mostrar que ela é válida 
                  para o sucessor n+1,então podemos garantir que ela é 
                  válida para todos os números naturais.A hipótese 
                  de P(n) ser válida denomina-se Hipótese de Indução. 
                 
                | 
           
         
         
      Todas as definições sobre números 
        naturais partem destes axiomas e todas proposições podem 
        ser demonstradas como consequência deles, tornando-se afirmações. 
         
        É essencial que você assista a apresentação 
        que mostra aplicações do Princípio da Indução: 
         
        Apresentação: 
        indução, soma de inteiros e soma de uma progressão 
        geométrica  
       
        Definições 
      Operação de adição 
         
        A operação de adição, nos números naturais, 
        é definida a partir da idéia de sucessor. 
         
        É definido um símbolo + para expressar o sucessor de um 
        número. 
        2 é o sucessor de 1, 2 = 1+1; 
        3 é o sucessor de 2, 3 = 2+1; 
        4 é o sucessor de 3, 4 = 3+1; 
         
           
         
        Adição 
         
        Operação que faz corresponder aos números m, n   
        N a soma m+n. 
        Símbolo: “+“  
        Elementos: parcelas 
        Resultado da adição: soma. 
        
      
        
           
              
                A soma m+n é o número natural que se obtém 
                  a partir de m aplicando-se n vezes seguidas a operação 
                  de tomar o sucessor.  
                  m + n = (((m+1) +1) +1) +1......+1) , operado n vezes. 
                | 
           
         
         
       
        Propriedades: 
         
        A adição + em N, é uma operação: 
         
        1) fechada  
           
         
        2) unívoca 
        Se a = a’ e b = b’ então a + b = a’ + b’. 
         
        De outro modo: se a = b então a + c = b + c. 
         
        3) comutativa 
        A ordem das parcelas não altera o resultado a + b = b + a. 
         
        4) associativa,  
        As parcelas, a, b, c podem ser agrupadas de modos diferentes 
        (a + b) + c = a + ( b + c). 
         
         
        Multiplicação  
      Operação que faz corresponder aos números 
        m,n N o produto m.n. 
         
        Símbolos: “x“ ou “.”. 
        Elementos: fatores  
        Resultado da multiplicação: produto. 
       
       
      
        
           
              
                m x n = n + n + ...+ n , operado m vezes. 
                | 
           
         
         
        
      Propriedades 
         
        A multiplicação em N é uma operação: 
        1) fechada 
           
         
        2) unívoca  
        Se a = a’ e b = b’ então a . b = a’. b’. 
         
        De outro modo: se a = b então a . c = b . c  
         
        3) comutativa,  
        A ordem dos fatores não altera o resultado: a . b = b . a 
         
        4) associativa,  
        Os fatores podem ser agrupados de modos diferentes  
        (a . b) . c = a (b . c) 
         
        5) com a propriedade do elemento neutro, o produto do número 1 
        por qualquer fator, não altera seu valor 1.a = a. Consequentemente: 
        m = 1m 
        m + m = 1m + 1m = 2 m; 3m + 5m = 8m, etc.  
        A operação de multiplicação possui a propriedade 
        distributiva com relação à adição: 
        c (a + b) = ca + cb. 
         
         É essencial que você veja o modelo geométrico 
        das propriedades da multiplicação e adição 
        na Apresentação: 
        operações em N. 
      Operação de subtração 
         
        Operação que faz corresponder aos números m,n  N 
        a diferença m - n  
        Símbolo: “-“ 
        Elementos da subtração: minuendo m e subtraendo n 
        Resultado da subtração: resto ou diferença.  
       
       
      
        
           
              
                m - n = p se e só se m = p + n 
                | 
           
         
         
        
        A operação de subtração não é 
        fechada em N, pois existem muitos pares de números m, n tais que 
        m - n não é um número natural. 
         
        Para estabelecer as condições em que m – n é 
        número natural, define-se uma relação de ordem em 
        N. 
         
        Relação de Ordem Estrita 
       
         
      
        
           
              
                Dados m, n e N, diz-se que m é menor 
                  do que n., e escreve-se m < n se, e só se, 
                     
                | 
           
         
         
       
        A relação m < n tem as seguintes propriedades: 
         
        1) Se m < n e n < p então m < p. 
         
        2) Dados m, n, vale uma, e somente uma, das alternativas:  
        m = n, m < n ou n < m 
         
        3) Se m < n então, para qualquer p, tem-se m + p< n + p e 
        mp < np. Poderíamos ter uma definição para ordem 
        não estrita, a relação <, “menor 
        ou igual a”. 
       
      Definindo um novo conjunto que amplia N 
         
        A constação mais crítica a respeito do não 
        fechamento da subtração em N, diz respeito à subtração 
        n - n.  
         
        A intuição diz que n-n é “nada”.  
      Mas, considerando em N = {1, 2, 3, ...} , não 
        existe um número natural c correspondente a n – n tal que 
        n – n = c , pois, neste caso, teríamos n+c = n o que contraria 
        a definição de adição: a soma de n+c consiste 
        em encontrar o sucessor de n , um número c de vezes.  
         
        Para contemplar esta falta, é preciso definir um novo número 
        e incluí-lo em N. 
        Define-se o número Zero, com símbolo 0. 
       
       
      
        
           
              
                Para qualquer n natural, n - n = 0  
                | 
           
         
         
      Conseqüência: 
         
        Sabe-se que n - n = 0 se e só se e 0 + n = n. 
         
        Deste modo, o número 0 é elemento neutro da adição 
        e é único. 
        CONJUNTO DOS NÚMEROS INTEIROS Z + 
         
        Reunindo os naturais com o zero, definimos um novo conjunto, denominado, 
        conjunto dos inteiros (não negativos, pois ainda não definimos 
        os negativos).  
        
      
        
           
              
                Adotamos a seguinte notação: 
                  Z + = { 0, 1, 2, 3, 4, ...} 
                | 
           
         
         
      ( A notação Z+ lembra que 
        ainda não foram definidos os números negativos)  
      Neste conjunto são válidas todas operações 
        definidas em N com todas as suas propriedades: associativa e comutativa 
        da multiplicação e da adição; distributiva; 
        elemento neutro da multiplicação. 
         
        Em Z+, a adição também tem a propriedade do elemento 
        neutro:  
        para qualquer inteiro n  Z+, 
        n + 0 = n 
         
        Operação de divisão  
         
        Operação que faz corresponder aos números m, n  Z+, 
        o quociente m : n. 
        Símbolo “ : ”  
         
        Elementos da divisão m : n : m o dividendo e n o divisor. 
        Resultado da divisão: quociente. 
        
      
        
           
              
                m : n = p se e só se m = p . n 
                | 
           
         
         
      A operação de divisão não 
        é fechada em Z+, pois existem muitos pares de números m, 
        n tais que m : n não é um número inteiro.  
         
        Para verificar em que condições m : n é número 
        inteiro, define-se a relação de “ser múltiplo” 
        ou “ser divisor”.  
         
        Seguiremos a estudar a divisão, no Módulo 
        II, quando definiremos “fração”. Para ter uma 
        idéia de como se desenvolvem as provas de algumas propriedades 
        dos números, é essencial que você acompanhe a Apresentação 
        : demonstrações em N e Z+ . 
       Observação: Você 
        vai encontrar autores que, em lugar de apontarem a subtração 
        e a divisão como operações não fechadas, nos 
        inteiros, afirmam que são operações não definidas, 
        neste conjunto, pois uma operação só se define com 
        a propriedade do fechamento. Optamos aqui por seguir a orientação 
        de Caraça (1998) que desenvolve os conjuntos numéricos enfatizando 
        a busca do fechamento das operações. 
      Algoritmos das operações com números 
        inteiros 
         
        Os algoritmos usuais, praticados na escola, para as quatro operações 
        com números naturais, baseiam-se no sistema numérico decimal. 
         
         
        Todo número natural pode ser decomposto em potências de 10 
        ( =1, 10¹=10, 10² 
        = 100, 10³ = 1000, etc.) e é composto por dígitos de 
        0 a 9, posicionados de tal forma que a cada posição corresponde 
        a uma ordem de grandeza:  
         
        9321 = 9x1000 + 3 x 100 + 2 x 10 + 1. 
         
        Todas as operações com naturais podem ser resolvidas com 
        a decomposição dos números. 
         
        Por exemplo, para calcular 14 x 7, uma das maneiras de operar consiste 
        em decompor o número: 10 x 7 + 4 x 7.  
         
        As técnicas operatórias usualmente ensinadas na escola apóiam-se 
        nas regras do sistema de numeração decimal e na decomposição 
        dos números.  
       
         
        Não vamos tratar aqui, explicitamente, destes algoritmos, mas você 
        pode procurar detalhes neste endereço: http://educar.sc.usp.br/matematica/matematica.html 
       
      ____________________________________________________________________ 
       Notas 
        Finais 
         
        ¹Texto Provas 
        extraído de http://pt.wikipedia.org/wiki/Prova_por_constru%C3%A7%C3%A3o 
      ²Texto 
        Números 
        Naturais extraído de 
        http://pt.wikipedia.org/wiki/N%C3%BAmero_natural#A_hist.C3.B3ria_dos_n.C3.BAmeros_naturais_e_o_estado_do_zero 
          
      _____________________________________________________________________ 
      GLOSSÁRIO 
        
      Axioma 
        Conceito 
        primitivo 
        Corolário 
         
        Demonstração 
        Lema 
        Operação 
        Postulado 
         
        Princípio 
        da Indução 
        Se 
        e somente se 
        Teorema 
      Este texto foi adaptado de: 
        1. CARAÇA, Bento de Jesus. Conceitos 
        Fundamentais de Matemática. Lisboa: Gradiva, 1998, páginas 
        35 a 45, trecho do capítulo 2:1 – A construção 
        do campo racional. 
        2. LIMA, Elon Lages, CARVALHO, Paulo 
        César pinto, WAGNER, Eduardo, MORGADO, Augusto César. A 
        Matemática do Ensino Médio. Coleção 
        do Professor de Matemática. Vol. 1. Sociedade Brasileira de Matemática, 
        2001, capítulo 2 (Números Naturais), página 25 a 
        34.  
       
         
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