Visc. Rio Branco
Visconde do Rio Branco

Rio Branco balbucia suas últimas palavras, delirando em seu leito de morte:
"Senhor Presidente: peço licença para falar com muita pausa, devido ao meu melindroso estado de saúde...: Confirmarei diante de Deus tudo quanto afirmei diante dos homens!"


O Visconde do Rio Branco ( VRB ) é uma das figuras mais importantes da História do Brasil, principalmente por sua atuação no movimento abolicionista ( coordenou a luta pela aprovação da Lei do Ventre Livre ) e como Presidente do Conselho de Ministros do Império ( 1871 -75 ). Contudo, aqui abordaremos outra faceta de sua vida: a de professor de Matemática.

Nesse sentido, antes de mais nada, deve-se apontar que o VRB foi um exemplo, talvez o mais importante, de uma situação que existiu no Brasil desde a Proclamação da Independência até o início deste século. Qual seja: por absoluta falta de pessoal qualificado, grande parte dos professores universitários eram desviados de suas funções e convocados a servir em cargos públicos ou em comissões governamentais de alto nível. No caso do VRB, essa situação perdurou por cerca de 30 anos, durante os quais ele alternou o cargo de professor com o de ministro e várias outras funções públicas.






  1. Dados biográficos

    Nome: José Maria da Silva Paranhos
    Viveu: 61 anos, de 1819 a 1880; nasceu na Bahia e morreu no Rio de Janeiro.
    Filho: José Maria da Silva Paranhos Júnior, que recebeu o título de Barão Visconde Rio Branco por seus serviços diplomáticos na construção do território brasileiro. Atualmente, é muito mais conhecido do grande público do que seu pai.
    Formação:

    • engenheiro militar pela Escola Militar do RJ ( 1845 )
    • doutor em Ciências Matemáticas pela Escola Militar ( 1846 )
      ( neste ano a EM passou a conferir o título de doutor; além de VRB outros 10 oficiais doutoraram-se em 1846 )
    Principais cargos de professor:
    • professor substituto na Academia da Marinha ( 1845 )
    • professor substituto na Escola Militar do RJ ( Balística ): 1846-48
    • professor catedrático na Escola Militar do RJ ( Artilharia e Fortificações Permanentes ): 1849-54
    • professor catedrático na Escola Militar do RJ ( Mecânica Racional e Aplicações, depois Continuação do Cálculo Diferencial e Integral e da Mecânica): 1855-62
    • professor catedrático na Escola Central ( Economia Política, Estatística e Direito Administrativo ) 1863-75

  2. Início profissional : 9 anos como professor particular

    O VRB era filho de uma família de rico comerciante e proprietário português. Contudo, por ter apoiado e financiado o exército português quando das lutas decorrentes da Proclamação da Independência, seu pai viu-se arruinado economicamente quando VRB tinha apenas 3 anos de idade.
    Em 1835, aos 16 anos, o VRB veio estudar na Academia de Marinha, no RJ. Sua ideia era que por ser um curso grátis e de apenas 3 anos de duração, ele lhe permitiria mais rapidamente conseguir sustentar-se.
    Contudo, sua vocação matemática foi mais forte. No ano seguinte, mudou-se para a Escola Militar. Para conseguir sua manutenção, ao longo dos longos 7 anos de curso daquela escola, passou a dar aulas particulares. Nesse trabalho ficou 9 anos !

  3. A fase de professor universitário e político: 1844 a 75 .

    Em 1844, quando ainda nem concluira o curso da Escola Militar, começou a escrever artigos políticos nos jornais do RJ. Seu sucesso foi meteórico: em 1845 já acumulava os cargos de deputado estadual com o de professor da Escola; no ano seguinte, com 27 anos, chegou a vice-governador do RJ.
    A partir daí passou a dividir sua vida de professor com a de político. Embora seja difícil avaliar que parcela dos seguintes 30 anos foram efetivamente gastos em sala de aula, é fácil constatar que estava sempre pensando em questões de ensino. Comprovaremos com dois exemplos.

  4. Rio Branco pioneiro do Ensino Médio no Brasil

    Em 1848, ainda como vice-governador do RJ, assumiu interinamente o governo da província. Imediatamente apresentou projeto reestruturando o ensino elementar e introduzindo o Ensino Médio que funcionaria como alternativa ao tradicional secundário de orientação estritamente acadêmica.
    O projeto, evidentemente, envolvia a construçao de escolas, a formação e contratação de professores. Envolvia dinheiro. Resultado: ficou apenas no papel. Aliás, esse foi o destino da grande maioria dos projetos educacionais brasileiros até o início do presente século.

  5. Sua mais importante obra educacional: a Escola Politécnica do RJ (1874)

    Oficiais descontentes com a formação excessivamente matemática, em detrimento da militar, como ocorria na Escola Militar do RJ, acabaram fazendo com que esta fosse dividida (1858) em duas escolas:

    • a Escola Central ( no Largo de São Francisco, RJ ), recebendo alunos civís e militares e que continuava com o Bacharelado em Ciências Matemáticas ( 4 anos ) e criando um curso de engenharia para não-militares ( 5 anos = 3 primeiros anos do bacharelado + 2 anos específicos de engenharia )
    • a Escola Militar de Aplicação do Exército ( na Praia Vermelha, RJ ), recebendo apenas alunos militares

    Em 1874, VRB conseguiu a total desvinculação da Escola Central do setor militar, reformulou-a e esta passou a chamar-se Escola Politécnica . A Politécnica inicialmente continuou a tradição de formar bacharéis e engenheiros:

    • bacharelados: Ciências Físicas e Matemáticas, e Ciências Físicas e Naturais ( extintos em 1896 )
    • engenharias: civil, minas, industrial e geográfica

    O VRB exerceu o cargo de diretor da Poli entre 1875 e 76. Sua intensa vida pública na época tornou cada vez mais inviável seu trabalho de professor. Contudo, por longos anos continuou influenciando a direcão da Escola e frequentemente comparecia às sessões de sua congregação.
    Em particular, sob sua orientação começaram a ser introduzidos livros de Matemática modernos e que não seguiam a linha positivista, que ainda imperava na Escola Militar. Como fruto dessa orientação, surgirão Oto de Alencar e Amoroso Costa que iniciarão o combate à matemática positivista difundida por Benjamin Constant e Trompowski.

    A escola de engenharia criada por VRB nunca parou de crescer e tornou-se um dos principais centros de engenharia do país. Após várias mudanças de nome, orientação e sede ela constitui, hoje, a Escola de Engenharia da UFRJ.

  6. Bibliografia

    • Paulo Pardal - 140 anos de doutorado e 75 de livre-docência no ensino de engenharia no Brasil.
      RJ, EEUFRJ, 1986.

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Versão de novembro/2019.
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