Seja o disco
e denotemos por
a sua
circunferência. Vamos determinar os autovalores e as
autofunções do laplaciano no disco , isto é,
vamos considaderar o problema
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(1) |
Pelo método de separação de variáveis,
procuramos a autofunção na forma
Substituindo em (1) temos
Temos, então,
|
(2) |
e
|
(3) |
Como já vimos antes, as soluções não triviais
de (2) são:
|
(4) |
e
|
(5) |
Pondo estes valores de na equação (3) e pondo também
com
,
pois sabemos que para qualquer região os
autovalores do laplaciano são todos negativos, temos
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(6) |
A equação (6) se reduz a uma equação de Bessel
através da mudança de variável
.
De fato, pela regra da cadeia,
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(7) |
e, multiplicando por ,
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(8) |
Derivando (7) mais uma vez e usando novamente a regra da cadeia, obtemos
|
(9) |
Substituindo (8) e (9) na equação (6), obtemos
|
(10) |
que é a equação de Bessel de índice .
Portanto, se pensarmos em
expressa como
função de e não de , teremos
.
Voltando a expressar
em função de ,
.
Lembrando agora que as funções envolvidas devem ser
finitas e estar bem definidas para , pois
corresponde à origem, que é um ponto do disco ,
vê-se que é preciso que , ou seja,
Nossa conclusão, até agora, é que as funções
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(11) |
|
(12) |
satisfaz
. Precisamos ainda verificar
para quais valores de
a função
cumpre também a condição de fronteira
em
, isto é,
. Tanto para (11)
quanto para (12), de
para todo
segue que
deve cumprir a condição
, isto é,
deve ser um dos
zeros (positivos) da função de Bessel .
Sabemos que se anula para uma infinidade de zeros.
Existe toda uma seqüência de zeros positivos de
Conclusão: Os autovalores do laplaciano no disco
são
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(13) |
A uma autovalor da forma
corresponde a autofunção
|
(14) |
A um autovalor
com
correspondem duas autofunções linearmente
independentes
e |
(15) |
As autofunções (14) são funções radiais, isto é, dependem
somente da coordenada polar , ou seja, suas curvas de nível são
os círculos centrados na origem, ou ainda, seus gráficos são
superfícies de revolução.
Qualquer combinação linear de
e
dadas por (15)
é autofunção correspondente ao autovalor
,
. Logo qualquer função da forma
|
(16) |
é uma autofunção correspondente ao autovalor
.
Todas as autofunções (16) são obtidas de
por uma rotação.
Ortogonalidade. Vimos na parte 1
que as autofunções do laplaciano em
um domínio qualquer são ortogonais. Lembrando que
, vemos que neste caso a ortogonalidade se
traduz por
se |
(17) |
Na verdade, para muitos valores dos índices, esta informação
poderia ter sido facilmente obtida diretamente. Por exemplo,
pela ortogonalidade do sistema de senos e cossenos
em
. No entanto, a relação de ortogonalidade
(17) nos dá uma conclusão não trivial no caso ,
, que é
se |
(18) |
Em outras palavras, para qualquer , as funções
constituem um sistema ortogonal em relação ao
produto interno
,
ou ainda, na nomenclatura mais clássica, são ortogonais
no intervalo em relação ao peso
. Note a semelhança com a ortogonalidade,
por exemplo dos
no intervalo
. Os são justamente os zeros
positivos da função
. Assim também
os
são os
zeros positivos da função
. Do mesmo modo
que os
são ortogonais em ,
os
também são, devendo-se
ter o cuidado de escolher o peso conveniente. Devemos
mencionar, ainda, que a relação de ortogonalidade (17)
das funções de Bessel pode ser deduzida
fora do contexto das autofunções
do laplaciano no disco, usando somente propriedades das
funções de Bessel. Isto pode ser visto na maioria
dos livros que tratam de funções de Bessel, por exemplo,
Bowman, F. - Introduction to Bessel Functions (página 108,
fórmula (6.62) )
Esta relação de ortogonalidade abre a
possibilidade para o seguinte tipo de expansão:
Dada uma função
e fixado um , expressar como
|
(19) |
Resulta que a expansão acima, chamada de série de
Fourier-Bessel, é possível para toda função
razoável. Para calcular os coeficientes precisamos
ainda da expressão das normas:
Prop.
Não vamos aqui dar a demonstração deste
fato, que também pode ser vista no livro de Bowman citado
acima (fórmula (6.63) ). Vamos apenas assinalar que dela decorre,
como nas séries de Fourier, que, na expansão (19), os
coeficientes são dados por
|
(20) |
Exemplo. Expandir a função constante
,
em série de Fourier-Bessel
De acordo com (20), os coeficientes são dados por
Conforme vimos em um dos exercícios sobre funções de
Bessel, a partir das expressões em séries de potências para
e para , pode-se facilmente verificar que
Segue que
Logo
e, finalmente,
para
Para ver os gráficos de algumas somas parciais desta expansão
clique aqui.
Pode-se expandir a mesma função usando em lugar de .
Aplicação à membrana vibrante circular.
As ondas estacionárias na membrana circular são, por (16), da forma
onde
ou, equivalentemente,
A primeira das expressões acima para permite facilmente
identificar as linhas nodais desta onda estacionária:
ou
(O símbolo ``
" significa ``se e somente se").
Como varia no intervalo ,
para
Segue daí que os círculos centrados da origem com raios da forma
,
são linhas nodais.
Além disto,
sobre diâmetros do disco unitário (estes diâmetros dividem
em partes iguais). Estes diâmetros também
são, portanto, linhas nodais.
Caso particular - vibrações com simetria radial. Este
é o caso particular em que a função
depende só de . Por (14), as ondas estacionárias com simetria
radial são da forma
As linhas nodais são os círculos
,
.
Para ver os gráficos de algumas autofunções
do laplaciano no disco, bem como animações das
correspondentes ondas estacionárias na membrana circular,
clique aqui