PROBLEMA 1. Consideremos o problema de determinar a forma assumida por um cabo homogêneo flexível, suspenso pelas duas extremidades, sob a ação de seu próprio peso.
Este trecho está em equilíbrio sob a ação de 3 forças: o seu peso, a tensão
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Solução:
Evidentemente, quando atingir o equilíbrio, o cabo vai ficar, todo ele, contido em um plano, o plano vertical que passa por suas duas extremidades. Ficamos, então, com um problema no plano. Coloquenos, neste plano, um sistema de coordenadas em que o eixoseja vertical e passe pelo ponto mais baixo
do cabo. A força de tensão é variável ao longo do cabo. A tensão em um ponto
do cabo depende, entre outras grandezas, do peso da porção de cabo acima do ponto
. Consideremos um trecho do cabo, de comprimento
, entre o ponto de coordenadas
e o ponto mais baixo do cabo.
no ponto mais baixo e a tensão
no ponto mais alto. O fato do cabo ser flexível se expressa matematicamente dizendo que a força de tensão tem sempre a direção tangente à curva. Isto, porque não há forças internas, o cabo não oferece nenhuma resistência a curvar-se na direção da tensão. A soma destas 3 forças que agem sobre o trecho considerado do cabo é nula. Considerando as componentes horizontais, temos
(1)
e, igualando a componentes vertical deao peso do trecho, temos
(2)
ondeé a densidade linear do cabo. Dividindo (2) por (1), obtemos
(3)
Estamos procurando a funçãoque dá a forma assumida pelo cabo. A condição (3) nos diz que
(4)
Note queé função de
. A igualdade acima não é ainda uma EDO, pois 3 variáveis estão envolvidas. Para superar esta dificuldade, derivamos (3) em relação a
,
(5)
Vamos aqui abrir um parênteses para revisar uma fórmula do cálculo, a fórmula (6) abaixo.
Fazendo
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A figura ao lado mostra um pequeno segmento de comprimentoa partir do ponto
. Queremos expressar o pequeno comprimento de arco
, medido sobre a curva. A idéia é aproximar
pelo comprimento medido sobre a reta tangente. Chamando de
o ângulo entre esta tangente e o o eixo
, temos
Logo![]()
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, obtemos
(6)
Substituindo (6) em (5), obtemos
(7)
que é uma EDO de segunda ordem redutível à primeira ordem. Chamando, temos
(8)
onde. A EDO (8) é separável. Separando as variáveis e integrando, temos
Fazendo a substituição![]()
,
,
Logo
Usando que a tangente no ponto mais baixo da curva é horizontal, isto é,![]()
, deduzimos que
. Logo
ou seja,
Se nos concentrarmos no lado direito do cabo, onde![]()
, temos
Podemos isolar![]()
,
Logoe![]()
![]()
A curva
Concluímos que a posição de equilíbrio do cabo é dada por
isto, é, uma translação vertical da curva, que nada mais é do que uma mudança de escala (uma ampliação ou redução) da curva
(9)
já que provém dela através da tranformação.
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chama-se catenária, do latim catena, que significa cadeia ou corrente. A catenária (9), portanto, é a forma assumida por um cabo flexível suspenso, a menos de um fator de ampliação ou redução.
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Fixados 2 pontos e
como na figura ao lado, consideremos 2 cabos flexíveis de comprimentos diferentes suspensos por estes 2 pontos. A forma assumida pelo cabo de menor comprimento, que ficou mais acima é a de um pequeno trecho da catenária (9), bem próximo ao ponto mais baixo, submetido a uma grande ampliação. Já a forma assumida pelo cabo de maior comprimento é a de um trecho muito mais longo da catenária (9), sujeito a uma pequena ampliação ou até mesmo a uma redução.
PROBLEMA 2. Determine a forma assumida por um cabo de sustentação de uma ponte pênsil de densidade horizontal constante, supondo a massa do cabo desprezível face a massa da ponte que ele sustenta.
Solução:
Consideremos, novamente na Figura 1, as 3 forças agindo no trecho do cabo entre seu ponto pais baixo e o ponto. A única diferença é que agora em lugar de considerar o peso do techo de cabo, devemos considerar o peso do trecho da ponte que esta sob o trecho do cabo. Em outras palavras, a condição (1) continua a mesma, mas em lugar de (2) devemos considerar agora a condição
(10)
ondedesigna agora a densidade horizontal da ponte.
Dividindo (10) por (1),
(11)
Logo a funçãoque dá a forma do cabo satisfaz a equação diferencial
Trata-se de uma equação diferencial de primeira ordem separável muito simples, cuja solução geral é![]()
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CONCLUSÃO: Um cabo de sustentação de uma ponte pênsil assume a forma de um arco de parábola.
Eduardo H. M. Brietzke