A figura abaixo representa um teclado. À medida que se avança para a direita, as notas vão ficando mais agudas. É fácil localizar as notas em um teclado. Note que as notas pretas se alternam em grupos de 2 e de 3 notas. Toda vez que tivermos um grupo de 2 notas pretas, a nota imediatamente anterior é um dó.
Entre o dó e o ré existe uma nota (preta no teclado), dó# (lê-se dó sustenido), que é mais aguda do que o dó, mas mais grave do que o ré.
O intervalo entre o dó e o dó# é de 1 semitom. Entre o dó# e o ré também é de 1 semitom, mas entre o dó e o ré é de 1 tom.
Note que entre o mi e o fá não existe nenhuma nota preta, portanto o intervalo é de 1 semitom. O intervalo si-dó também é de 1 semitom.
A escala de dó maior é a seqüência de notas: dó - ré - mi - fá - sol - lá - si - dó. Já a escala de ré maior, por exemplo, é a seqüência: ré - mi - fá# - sol - lá - si - dó# - ré. A escala de mi maior é: mi - fá# - sol# - lá - si - dó# - ré# - mi. Dependendo da escala que se considere, as notas que são sustenidas variam, o que não varia, o que é igual em todas as escalas são os intervalos entre as notas: - tom - tom - semitom - tom - tom - tom - semitom - . Isto ilustra o princípio de que o importante em música são os intervalos entre notas. Por exemplo, pegando uma melodia conhecida por todos, o parabéns a você, tocado de duas maneiras diferentes:
Pode-se tocar seguindo as notas da segunda linha, ou então as da terceira linha. Nos dois casos a melodia será a mesma, apenas no segundo caso será um pouco mais aguda. Note que nas duas alternativas os intervalos são os mesmos. Por exemplo, o intervalo , seja ele sol-lá ou si-do#, nos dois caso é intervalo de 1 tom. O intervalo a-vo, em ambos os casos, sol-dó ou si-mi, é um intervalo de 2,5 tons. Uma mesma melodia pode ser transposta para os mais diversos tons, basta que sejam mantidos os intervalos entre as notas. Em outras palavras o que é realmente importante são os intervalos entre as notas.
Uma questão interessante é, por que se usam 12 notas (7 brancas + 5 pretas)? Quando se toca 2 ou mais notas ao mesmo tempo, dizemos que é um acorde. Alguns acordes são agradáveis ao nosso ouvido, isto é, são consonantes. Outros são desagradáveis, são dissonantes. Por que? Será que tudo isto é simplesmente uma questão de hábito, um produto de nossa cultura? Vamos ver que não. Existe uma explicação física. Vimos que uma corda fixa nos extremos, quando vibra, seu movimento é descrito por uma série
Consideremos o dó bem da esquerda do
teclado da figura acima. Chamemos de a sua
freqüência. Suponhamos que se trate do "dó da
fechadura" do piano, cuja freqüência é
Hz.
O próximo dó mais agudo terá
freqüência
. E toda vez que este intervalo
(chamado de oitava) se mantiver, a freqüência
dobrará. Por exemplo, se um mi tiver uma certa
freqüência
, o próximo mi, uma oitava mais
agudo, vai ter freqüência
. Portanto o
primeiro dó tem freqüência
, o segundo
tem freqüência
, o terceiro
e
o quarto
. Todos eles soam junto no primeiro
dó. São, respectivamente
,
,
e
. Mas também soam junto com o primeiro
dó,
com freqüência
,
com freqüência
,
com
freqüência
, etc? Que notas são estas?
A nota de freqüência
deve situar-se entre
o dó de freqüência
e o dó de
freqüência
. Resulta ser um sol, que está
representado no teclado abaixo.
Lembrando que em um intervalo de 1 oitava a freqüência
dobra, concluímos que a nota de freqüência
é também um sol, também localizado
no teclado da figura.
Qual será a nota de freqüência
?
Deve ser uma nota quase a meio caminho entre o dó de
freqüência
e o sol de freqüência
. Na verdade é um mi, representado abaixo
Note que o mi- é a 4
nota depois do
dó-
e que o sol-
é a
3
nota depois do mi-
. Está
faltando ainda a 7
nota da série harmônica do
dó. Acontece que esta 7
nota não é
nenhum dos sons deste teclado, ela é dissonante em
relação ao tom fundamental. Veremos em um problema
de uma das listas de exercícios, que no caso da
corda percutida, como no piano, pode-se conseguir que este
7
harmônico não soe, seja eliminado, bastando
para isto que o martelo bata na corda em um ponto
conveniente (veremos que este ponto conveniente é um
nó do 7
harmônico; na prática os fabricantes
de piano fazem com que o martelo bata na corda em um ponto
que dista de uma das extremidade fixas da corda aproximadamente
do comprimento da corda). Gostaríamos de frizar que
todas as notas de freqüência
,
,
,
, etc, soam junto (apenas com
menor intensidade) quando se toca do dó de freqüência
.
Usando novamente que em um intervalo de 1 oitava a
freqüência dobra, concluímos que a
freqüência do 1
sol é a metade da
freqüência do 2
sol,
. podemos então completar um
pouco mais nosso quadro de freqüências
Neste ponto uma simples inspeção nos mostra que em qualquer altura do teclado, se consideramos uma progressão dó-mi-sol, a razão entre suas freqüências é 4:5:6. Justamente, estas 3 notas tocadas em conjunto são bastante agradáveis ao ouvido, constituindo o acorde de dó maior. Portanto o acorde maior não é uma invenção da civilização ocidental. Ele não é agradável a nosso ouvido simplesmente porque já estamos habituados a ouvi-lo. Existe uma razão muito mais forte, de natureza física para que o acorde maior seja agradável ao ouvido. É que a razão entre as freqüências das notas que o compõem são razões entre números inteiros pequenos, no caso 4:5:6.
Para completar um pouco mais nosso quadro de freqüências,
usamos que o acorde de fá maior é fá-lá-dó.
(se duvidar disto, note que o intervalo fá-lá
é de 2 tons, exatamente como o 1
intervalo
dó-mi do acorde de dó maior e o intervalo
lá-dó é de 1,5 tons, exatamente o mesmo que
mi-sol). Segue que a razão entre as
freqüências de fá-lá-dó é 4:5:6.
Considerando o dó-
, temos que o lá
a sua esquerda tem freqüência
Analogamente, começando em um sol e avançando 2 tons para à direita e depois mais 1,5 tons, concluímos que o acorde de sol maior é sol-si-ré. Portanto a razão entre as freqüências de sol-si-ré também é 4:5:6. Mas já conhecemos a freqüência da nota sol. Isto nos permite calcular as freqüências de si como sendo
As notas que, quando tocadas juntas, soam agradáveis ao ouvido, são aquelas tais que a razão entre suas freqüências são frações entre números inteiros pequenos. Por exemplo,
- para ré-sol, obtemos a fração
e portanto são
consonantes.
- para fá-si, obtemos a fração
que tem numerador
e denominador bastante grandes. Estas duas notas portanto são
bastante dissonantes. Tocadas ao mesmo tempo soam bastante
desagradáveis ao ouvido. Tocando ao mesmo tempo duas notas vizinhas,
como dó e dó#, pode-se notar até um
batimento, no entanto é fácil cantar a seqüência
dó-dó#. Já para uma pessoa sem bom um
treinamento musical é bem difícil cantar em seqüência
fá-si, é quase impossível guardar este intervalo na
memória.
A escala de dó maior que acabamos de construir é a chamada escala da intonação justa. Ela apresenta um sério inconveniente. As razões entre os intervalos de 1 tom não são sempre iguais. As razões entre as freqüências de dó-ré , fá-sol e lá-si são 9:8. As razões entre as freqüências de ré-mi e sol-lá são de 10:9. Este tipo de coisa e, mais ainda quando as notas pretas são consideradas, criou uma série de complicações. Sem querer entrar em problemas técnicos, vamos mencionar apenas que para enfrentar esta situação, era preciso, em lugar das 12 notas atuais, considerar mais de 30 notas, algumas delas diferindo tão pouco entre si, que só um ouvido treinado podia detectar a diferença.
Visando contornar esta dificuldade, os teóricos da
música no século XVII propuseram a escala do igual
tempreramento. Esta escala consiste em dividir a oitava em
12 notas de modo que a razão entre as freqüências de duas
notas vizinhas (intevalo de 1/2 tom) é sempre a mesma.
Consideremos todas as notas entre o dó- e o
dó-
As freqüências destas notas são
de modo que
. Na escala do igual temperamento, para qualquer
intervalo de 1 tom, a razão entre as freqüências é
sempre
.
É intressante comparar este valor com as duas possibilidade
e
, que observamos
na escala da justa intonação. Existe uma pequena
diferença entre as duas escalas. A escala do igual
temperamento foi se impondo lentamente entre os séculos
XVII e XVIII, tendo se consolidado definitivamente com
o compositor J. S. Bach, que compôs o dois volumes do
Cravo Bem Temperado, o primeiro deles em 1722 e o segundo
em 1744. No sistema de justa intonação não era
possível fazer música em todos os tons. Em cada um
dos volumes do Cravo Bem Temperado, Bach compôs 24 prelúdios
e 24 fugas, um conjunto para cada um dos 12 tons maiores e dos 12
tons menores, provando definitivamente que no sistema de igual
temperamento pode-se fazer música em todos os tons.