Calculo de 0 0
Este caso é de natureza polêmica, controvertida. Com efeito:
- poderiamos ver 00 como vindo de n0 = 1
( para n não nulo ) ao forçarmos n=0, o que nos
levaria a considerar como natural
definir 00 = 1
- por outro lado, podemos tambem ver
00 como vindo de
0n = 0
( para n não nulo ) e então TAMBEM seria natural achar
que 00 = 0.
Qual a melhor escolha? Definir 00 = 1 ou 00 = 0? Ou, talvez, considerar
como indeterminado o valor de 00 ?
A polêmica do valor de 00 percorreu vários séculos, desafiando matemáticos
de enorme talento como Euler, Cauchy, etc. Curiosamente nenhum desses
dois grandes matemáticos deu uma resposta satisfatória. E' um exemplo onde
talentos menores, mas mais persistentes, lograram melhores resultados.
No que segue resumirei a longa discussão deste caso dizendo que:
Não podemos dar uma resposta universalmente válida para 00.
NORMALMENTE / USUALMENTE é mais conveniente definirmos
00 = 1 , mas há situações onde o melhor é considerá-lo como
um cálculo indeterminado ( =sem resultado ).
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Examinaremos dois cenários importantes de ocorrência de 00:
Cenário 1:
No uso de identidades ( como binômio de Newton, fórmulas de Combinatória,
somatórios, etc ) normalmente o melhor a fazer é adotar 00 = 1
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Vejamos razões para isso:
- um dos resultados mais úteis da MAT é o binômio de Newton
(x+y)p = xp . y0
+ p xp-1 . y + .... + x0 . yp
e, assim, e' extremamente conveniente permitirmos seu uso nos casos
mais diversos possíveis, em particular no caso 00.
Ora, para p=0 o binômio fica:
(x+y)p = (x+y)0 = x0 y0
Daí, fazendo x=r e y=-r, com r não nulo, temos que:
00 = (r)0 (-r)0 = 1 . 1 = 1
Ou seja, vemos que estender o binômio de Newton para o caso n=0
implica em aceitar que 00 = 1.
Como comprovação de que essa e' uma boa idéia, tomando x=y=0, temos:
00 = (0+0)0 = 00 00 = 1.
- a maioria das OUTRAS razões trabalham, explícita ou implicitamente,
com o conjunto vazio. Dou so' um exemplo:
seja o clássico problema combinatorial de enumerar as maneiras de
arranjarmos n objetos em blocos de tamanho p ( aceita-se repetição).
Por exemplo: os 3 objetos a,b,c podem ser arranjados em 2-blocos das
seguintes maneiras: aa, ba, ca, ab, bb, cb, ac, bc, cc; o total de
tais 2-blocos e' 32 = 9.
No caso geral: ha' np maneiras de arranjar
n objetos em p-blocos ( a chamada fórmula dos arranjos repetidos ).
Como fica isso se pedirmos blocos de tamanho nulo ( os chamados
arranjos de classe nula ) ? Pela fórmula: n0 = 1. Qual o
significado disso? Voltemos ao exemplo concreto n=3, p=2. Nesse
exemplo o 32 = 9 = (quantidade de elementos do conjunto
dos 2-blocos)
= quantidade de elementos do conjunto {aa,ba,ca,ab,bb,cb,ac,bc,cc}. E no
caso de p=0 ? Agora, só há um 0-bloco: o conjunto vazio, de modo
que o CONJUNTO dos 0-blocos é { conjunto vazio }, ou seja é o
conjunto que tem como único elemento o conjunto vazio, logo seu
cardinal é um ( e não zero, como alguém poderia achar!). Em termos
mais prosaicos: há UMA e só uma maneira de escrevermos os 0-blocos:
nao escolhendo nada. A mesma explicação e resultado continua valendo
mesmo que também n=0.
Cenário 2:
No cálculo de limites de variáveis, a prática atual é de considerar 00
como forma indeterminada, cujo valor precisa ser estudado caso a caso
( chamamos esse estudo de "levantar a indeterminação" )
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Exemplos de formas 0 0 :
- sendo u=5( -1/x ) e v=x, entao u v tem a forma 0 0 ao x tender a zero.
Para levantar a indeterminação é só observar que:
uv = 5( -1 ) = 1/5
- sendo u=2( -1/x ) e v=x, então u v tem a forma 0 0 ao x tender a zero.
Para levantar a indeterminação é só observar que:
u v = 2 ( -1 ) = 1/2
- um caso muito comum de ocorrência da forma 0 0 é aquele em
que, em u v, a
u=u( x ) e a v=v( x ) sao ambas funções analíticas de x ( nao basta a infinita
derivabilidade ) e ambas tendem a zero ao x tender para zero; nestes
casos, prova-se que u v - > 1 ao x - > 0.
NOTE que nos dois exemplos acima a u=u( x ) NAO era analítica.
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