INTRODUÇÃO
A curiosidade de alguns estudantes tanto do ensino fundamental ou médio
sobre a história dos números e especialmente a dos números
negativos, incentivou-me a pesquisar sobre o assunto, e daí surgiu
a idéia de neste artigo caminhar na linha do tempo de 300 a .C.
ao século XX.
Mostrando que entre a aparição e aceitação
do número negativo levou mais de 1000 anos.
É interessante que os alunos saibam que as mesmas dúvidas
que aparecem hoje no contato com os números inteiros, já
instigava questionamentos de célebres matemáticos como
Euler, Laplace, Cauchy, Mac Laurin e Carnot, por exemplo.
Laplace (1749-1827) com respeito a Regra de Sinais disse:
"É difícil conceber que um produto de (-a) por (-b)
é o mesmo que a por b".
Mac Laurin (1698-1746) disse a respeito do número negativo: "A
quantidade negativa, bem longe de ser rigorosamente menos que nada,
não é menos real em sua espécie que a quantidade
positiva".
O Surgimento do número negativo
Ao contrário dos números naturais, racionais e irracionais,
que têm raízes em experimentações geométricas,
os números negativos e os complexos surgiram da manipulação
algébrica, como na resolução de equações
de 1º e 2º graus.
Os matemáticos do período Alexandrino que se iniciou 300
a.C., influenciados pela civilização egípcia e
babilônica, fizeram uma matemática mais orientada para
resolver problemas práticos, abordavam temas de óptica,
geografia, hidrodinâmica e astronomia.
Nestes trabalhos utilizaram números irracionais com aproximações
e iniciaram uma álgebra sem usar a geometria. Foi Diofanto (300
à 250 a.C.) que introduziu uma notação abreviada
para representar as potências e as quantidades desconhecidas e
abordou a resolução das equações algébricas
sem recorrer à geometria.
Assim o produto concreto do tipo (x-3) (x-4) foi desenvolvido algebricamente
, o que há de supor que ele conhecia a identidade algébrica
(a-b) (c-d)=ac-bc-ad+bd.
É citado uma regra para este produto de diferenças que
pode ser considerada como o "germem" do que pode ser chamado
de regra de sinais: "Subtração por subtração
dá adição".
Isto não significa que conhecesse os números negativos,
pois esta regra se refere ao produto de diferenças e sempre a>b
e c>d , e não há produto de números negativos.
Diofanto considerava somente as raízes positivas das equações,
mostrando o seu desconhecimento pelos números negativos.
Civilização hindu - Invenção do
número negativo
A grande contribuição dos hindus para a matemática
foi a criação de um sistema de numeração
posicional de base dez, cuja eficácia e simplicidade para o cálculo
aritmético se estendera universalmente.
A necessidade de agilizar os cálculos astronômicos os sábios
hindus se preocupavam por idealizar formas de representação
numérica que simplificassem esses cálculos.
Os matemáticos hindus mostraram ser virtuosos no cálculo
aritmético e algébrico que permitiram conceber um novo
tipo de símbolo para representar dívidas que posteriormente
o Ocidente chamariam de negativo.
A primeira vez que explicitamente as regras que regem a aritmética
com os números negativos aparecem em uma obra foi na do matemático
Brahmagupta que data do ano 628 d.C. Não só utilizou os
negativos em seus cálculos como os considerou entidades separadas
e os dotou de uma aritmética concordante com a dos inteiros.
Muitos séculos se passaram para que o interesse pelos números
negativos fosse retomado.
Civilização árabe - Os negativos ignorados
O ano de 622 d.C. marca o início da era muçulmana e o
começo da expansão do estado islâmico. Após
um século os árabes começaram a se interessar pela
cultura dos povos conquistados.
Al-Kwrizmi foi um matemático que alcançou maior popularidade,
morrendo em 850 d.C.
Ele escreveu tratados de astronomia, livros de álgebra e aritmética
que tiveram muita influência na matemática européia
no final da Idade Média e no Renascimento.
Alguns historiadores escreveram que foram problemas com dinheiro que
interpretaram o número negativo como perda.
Negativo - esta palavra pode ter vindo desta época que eram os
valores NEGADOS quando se obtinha raízes negativas de uma equação.
Renascimento
No Renascimento abriu-se uma nova etapa para os números negativos.
Provavelmente foi no Renascimento que apareceu um número negativo
ligado à uma equação algébrica, na obra
do matemático francês Nicolás Chuquet (1445-1500).
Se trata de seu "Triparty", escrita em 1484, que poderíamos
dizer hoje 4x = -2 . Não existia os símbolos "x",
"=", "-".
Stevin (1548-1620) aceita os números negativos como raízes
e coeficientes de equações.
Admite a adição de x +(-y) em lugar de considerá-la
como subtração de y á x. Também tratou de
justificar geometricamente a regra de sinais fazendo uso da identidade
algébrica: (a-b) (c-d)= ac-bc-ad+bd

Século XVII - com o nascimento das ciências modernas, amplia-se
o uso dos números negativos. Aparece as primeiras intenções
de legitimá-los.
Foi o matemático Albert Girard (1590-1639) o primeiro a reconhecer
explicitamente a utilidade algébrica de admitir as raízes
negativas e imaginárias como soluções formais das
equações; porque ele permitia uma regra geral de resolução
na construção de equações através
de suas raízes.
No final do século XVII, surgiu a obra de Viéte, esta
mais tarde ampliada admitiu que as expressões literais pudessem
tomar valores negativos, no entanto, a Álgebra não teria
conhecido um tal avanço se esta generalização do
número não tivesse sido acompanhada por uma descoberta
igualmente fundamental, realizada em 1591 por Viéte e aperfeiçoada
em 1637 por Descartes: a notação simbólica literal.
Demonstração das Regras de Sinais para a multiplicação-
Cauchy
1) a = +A 3) +a = +A 5) –a = -A
2) b = -A 4) +b = -A 6) –b = +A
Substituindo 1 em 3 temos:
+(+A) = +A
+ . + = +
Substituindo 2 em 4 temos:
+(-A) = -A
+ . - = -
Substituindo 1 em 5 temos:
-(+A) = -A
- . + = -
Substituindo 2 em 6 temos:
-(-A) = +A
- . - = +
A legitimidade dos números negativos deu-se definitivamente por
Hermann Hankel (1839-1873) publicada em 1867, "Teoria do Sistema
dos números Complexos". Hankel formulou o princípio
de permanência e das leis formais que estabelece um critério
geral de algumas aplicações do conceito de número.
Finalmente Dedekind (1831-1916), amigo de Cantor estabeleceu uma relação
de equivalência entre pares de números naturais e faz referência
da subtração como inversa da adição: a-b
=c-d, logo a+d= b+d . Ele demonstra que esta relação é
de equivalência, e o conjunto das classes de equivalência
será o conjunto dos números Inteiros.
Foram os complexos os últimos a obterem legitimidade.
A fundamentação dos números complexos foi proporcionada
por Hamiltom (1805-1865).
Profª Leda Maria Bastoni Talavera tem especialização
em Educação Matemática pelas Faculdades Oswaldo
Cruz leciona no Colégio Campos Salles (S.P.). Este artigo surgiu
da reflexão coletiva do grupo de pesquisa em Educação
Matemática da Escola do Futuro (USP), coordenado pela Drª
Ruth Ribas Itacarambi.
Bibliografia:
Boyer B. C., "História da Matemática", 1996.
Ifrah G., "História Universal dos Algarismos", 1995.
Gonzalez J. L., Iriarte M., Jimeno M., Ortiz A., Ortiz A., Sanz E.,
Vargas-Machuca I., "Cultura e Aprendizagem - Números Inteiros",
1985.